Pérolas do Positivismo.

 

Pérolas do Positivismo.

                                                                                                                                                                                               Arthur Virmond de Lacerda Neto. 22.VI.2020.

Coligi alguns lugares de autores filiados à religião da Humanidade, vale dizer, ao Positivismo nas suas vertentes intelectual, e moral e afetiva, concernentes a vários temas e que exemplificam (embora fragmentariamente) as opiniões e a cosmovisão do positivismo. Traduzi.

 

1) Positivismo e livre-pensamento (artigo de Carlos Jeanolle).

E depois, os positivistas são verdadeiramente livres-pensadores ? Sim, se se entender  unicamente por esse termo as pessoas emancipadas de toda crença teológica ou feiticista. Não, se o livre-pensamento consiste em rejeitar qualquer autoridade intelectual e moral organizada, posto que os positivistas, por seguirem seu mestre, Augusto Comte, tomaram precisamente a tarefa de facilitar o advento de novo poder espiritual para cumprir, melhor do que os sacerdócios teológicos que se tornaram incompetentes, o indispensável ofício de guia e de órgão regular da opinião pública […] (p. 107).

Ora, os positivistas não declaram a guerra ao catolicismo nem às outras religiões. Não somente eles rendem plena justiça aos serviços que ele prestou no passado […] Eles não pretendem absolutamente sua destruição; sua ambição é a de torná-lo gradualmente inútil pelo cumprimento melhor do que ele de sua própria tarefa no que ela tem de real e necessário, na moralização sobretudo. (p. 108).

Por muito tempo, os livres-pensadores foram sobretudo críticos e limitaram-se a proclamar o que não queriam e sua ação foi essencialmente destruidora. Presentemente, e pode-se crer que o positivismo não é alheio a esta transformação, eles defendem-se de serem puros negadores e falam eloqüentemente da era que abrir-se-á, graças à ciência e à difusão da instrução, era de solidariedade, de justiça e de liberdade. (p. 109).

Sem chegar a dizer que, por estes três últimos vocábulos, é mister entender, senão a ausência total, pelo menos atenuação considerável do egoísmo, da injustiça e da opressão […] (p. 110).

Carlos (Charles) Jeanolle. Positivismo e livre-pensamento, in Revista Ocidental, 1905, tomo XXXI.

Nicolau Xavier Carlos (Charles) Jeanolle. 1842 a 1914, francês. Antigo aluno de Comte, de que publicou, em 1899 Notícia da vida e da obra de Augusto Comte. Foi designado em 1897 como sucessor de Pedro (Pierre) Laffitte; presidiu a Sociedade Positivista de Paris de 1900 a 1914.

 

2) Sobre a necessidade de aproximação da França e da Alemanha (conferência de Henrique Molenaar).

[…] os que encaram a guerra como indispensável e até como felicidade, são asseguradamente adversários do progresso. (p. 178).

Quinta-essência da conferência: entendamo-nos, por concessões recíprocas, leais e compatíveis com a honra e o interesse dos dois países (p. 179).

Conferência de Henrique Molennar em Munique, in Revista Ocidental, 1905, tomo XXXI.

Henrique (Heinrich) Molennar. 1870 a 1965, alemão. Professor de línguas, livre-pensador e pacifista, declarava-se positivista completo, ou seja, adeso à filosofia positiva e à religião da Humanidade. Em 1901, fundou o periódico intitulado A religião da Humanidade (Die Religion der Menschheit; 1901-1903), a que  sucedeu  Visão de mundo positiva (Positive Weltansschauung; 1904-1906). Foi o único alemão presente, em 1902, à inauguração da estátua de Comte, na praça da Sorbona, em Paris. Em 1904 fundou a Sociedade positivista alemã, em Munique. Integrou o movimento monista, como gerente da revista Objetivos da Humanidade (Menschheitziele; 1907-1909).

 

3) Imperialismo britânico (artigo de Paulo Descours).

Pessoalmente, creio que a oposição é o melhor lugar para os liberais e que lhes seria melhor que eles aí permanecessem ainda por muitos anos do que regressar ao poder com política imperialista. O imperialismo, eis o inimigo ! É mister esperar que vejamos um dia um grande partido que queira efetuar reformas no nosso país e deixará as outras partes do Império — se é que deve haver um — arranjar seus negócios e deixar-nos nos havermos com os nossos no nosso país. Atualmente, não somente nossas colônias querem ser governadas por si próprias, e por isto felicito-as, mas elas querem, também, que dirijamos nossa política segundo seus votos e para sua vantagem. (p. 267).

Paulo (Paul) Descours, Boletim da Inglaterra, in Revista Ocidental, 1905, tomo XXXI.

Paulo Justo (Paul Juste) Descours. 1856 a 1923, inglês. Funcionário do Ministério do Comércio, secretário da Sociedade Positivista de Londres até sua morte, membro da Junta Positiva Ocidental, instituída por Augusto Comte.

 

4) Suprimir a guerra (discurso de Augusto Keufer).

Suprimir a guerra, que nobre desígnio ! Que fito humanitário ! (p. 275).

Durante o período de transição que nos conduzirá ao estado normal pacífico, a França deve dar impulso a política nova, pela renúncia às cobiças guerreiras, aos engrandecimentos de território. O exemplo será a melhor propaganda contra o espírito de conquista, contra a subjugação dos povos, que é política de lesa-Humanidade. (p. 275).

Augusto Keufer, discurso no Trocadero (Paris), em 12 de fevereiro de 1905, in Revista Ocidental, 1905, tomo XXXI.

Augusto (Auguste) Keufer. 1851 a 1924, francês. Tipógrafo, secretário-geral da Federação Francesa dos Trabalhadores do Livro, de 1884 a 1920. Positivista religioso, membro do Partido Socialista.

 

5) Cultura afetiva (discurso de Augusto Keufer).

Sua influência [do positivismo] moral deve exercer-se pela excitação de nosso altruísmo, de nossa bondade, de nosso respeito, esclarecê-los, guia-los; a cultura desses sentimentos deve fazê-los prevalecer sobre as impulsões egoístas, tão dispostas a dominar nossos atos. Toda a educação positivista tem por base o aperfeiçoamento do indivíduo, melhoramento moral, fonte do verdadeiro devotamento social. É nesta feliz influência que encontramos a força necessária para reagir contra o determinismo causado pelo meio em que vivemos. (p. 278).

Os positivistas têm então a missão rigorosa de propagar não somente a filosofia das ciências, mas de inspirar-se sobretudo dos ensinos da fé positivistas no que concerne à cultura dos sentimentos benevolentes e generosos. (p. 278).

Discurso de Augusto Keufer, no 107º aniversário do nascimento de Augusto Comte, in Revista Ocidental, 1905, tomo XXXI.

Augusto (Auguste) Keufer. 1851 a 1924, francês. Tipógrafo, secretário-geral da Federação Francesa dos Trabalhadores do Livro, de 1884 a 1920. Positivista religioso, membro do Partido Socialista.

 

6) Deturpação semântica do léxico de Augusto Comte (artigo de Péricles Grimanelli).

[…] procedimento que consiste em estender ou até em modificar radicalmente o significado dos termos empregados por Augusto Comte. (p. 14).

Péricles Grimanelli, Brunitière e o Positivismo in Revista Ocidental, 1905, tomo XXXI.

Péricles Grimanelli. 1874 a 1924, francês; advogado, colaborador de gazetas republicanas, prefeito de vários municípios, autor de A crise moral e o positivismo (Paris, 1903), A mulher e o positivismo (Paris, 1905), A moral positiva e a felicidade (Paris, 1924), dentre outros.

Positivismo. Pérolas do Positivismo.

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