Conservadorismo em debate.

O programa Aqui na Band, de 23 de junho de 2020, apresentou debate sobre conservadorismo.

 

No 15º minuto, falaram na bandeira do Brasil e em sua influência positivista. O ponto em debate era conservadorismo e quem aludiu à bandeira omitiu, por intenção ou por ignorância, o caráter conservador da bandeira, no sentido de que nela Teixeira Mendes, seu autor e positivista, combinou a tradição, a existência, com a renovação, com a atualização: ele manteve as cores e as formas da bandeira monárquica (conservação) e botou-lhe a representação do céu do dia 15 de novembro, com o dístico “Ordem e Progresso”.
Em debate sobre conservadorismo x progressismo, deveria ser inescapável referência ao Positivismo, a que , todavia, nossos neo-conservadores somente se referem para atacá-lo, com o que revelam sua deficiente formação cultural: desconhecem a natureza conservadora do positivismo e pensam que o conhecem, no que dele criticam.
Atentai: ordem E progresso e não ordem SEM progresso. Ordem significa as condições de existência de qualquer organismo; progresso, seu movimento, evolução, atividade.
O Positivismo COMBINA ORDEM COM PROGRESSO, CONSERVADORISMO COM PROGRESSISMO. Nele, a ordem é a condição e o fundamento do progresso; o progresso é o desiderato da ordem. Mantemos a ordem para que ela se desenvolva, aproveitamos a experiência do tempo, do passado, para conservarmos o que se mostrou merecedor de persistência, mas evoluímos, progredimos, com alterações reformadoras.
Nenhum dos debatedores sabe de nada disto; até um disse ser Augusto Comte desconhecido no Brasil atual. Realmente: graças a gerações de ativistas católicos, esquerdistas e, já agora, neo-anti-positivistas, não admira que hajam conseguido obscurecer e deturpar pensamento de um seu ALICIANTE RIVAL.
A ordem não pode ser RETRÓGRADA; o progresso não pode ser ANÁRQUICO.
O Positivismo é conservador pois reconhece o valor da família, da propriedade, do passado, da herança cultural, da experiência dos povos; também é conservador pois exige liberdade de pensamento, de opinião, de crítica, de arte, de cultura. Também é a filosofia da afetividade: adota o AMOR POR PRINCÍPIO, a ordem por base, o progresso por fim. Seu dogma moral básico é o de viver para outrem; ele valoriza os sentimentos de bondade e carinho, de solidariedade social sobre tudo.
Os intervenientes reivindicaram como traços do conservadorismo o da liberdade de pensamento, o da liberdade de poder-se analisar a realidade sem dominação exercida por manipuladores, por propagandistas, sem controlo artificial do pensamento e da opinião pública, em contraposição a projetos de sociedade que impliquem a doutrinação da opinião pública, que eles conotaram com a esquerda, com o socialismo. São liberdades que o Positivismo considera ineludíveis à ordem, para haver progresso.
Eles associaram a reivindicação das liberdades com o conservadorismo; nestes termos, trata-se de libertarianismo e não necessariamente de conservadorismo: há regimes conservadores e repressores, censuradores, propagandeiros.
Estes conservadores antagonizam ao que chamam de progressistas, a certo progressismo, ao progressismo autoritário , mas deslembram-se da existência de autoritarismos conservadores, que apresentam o que eles combatem.
Estudassem o Positivismo e teriam mais luzes.


Os intervenientes cometem cacoetes: a horrorosa expressão “a gente”. Atentai em que quem a usa tende a referir os verbos em geral a “a gente”: (exemplo fictício) “a gente tem o Sol no céu e quando a fauna toma luz, a gente tem clorofila.”
O cacoete de “aí”: ‘No Brasil a política aí está polarizada, mas como disse aí, os conservadores formam oceano na população aí”.
Conversas fingidas e gracinhas entre os jornalistas são infantis, bem diferentemente da qualidade dos análogos programas portugueses.
A condução do programa é ruim: os entrefaladores desperdiçam tempo com comentários pueris e infantilidades.

 

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