Nudez e Positivismo.

20.VII.2022.

Dois eram os fitos precípuos do Positivismo: incorporar o proletariado à sociedade moderna, laicizar a ética e a moral; o primeiro capítulo inspirou a simpatia dos positivistas para com os trabalhadores e, no Brasil, o surto da legislação laboral; o segundo capítulo abarca também reconhecer a naturalidade de todas as partes do corpo, designadamente as que o cristianismo demonizou, e sua inocência. Elas são a mentula, o escroto, as mamas, a vagina, a bunda.

A mentalidade cristã gimnofóbica permeia nossa sociedade e influencia até ateus, livres-pensadores, marxistas, positivistas, que aderem ao conceito (de matriz cristã) de que mentula e mamas são inapresentáveis, em lugar de tê-los como inocentes.

De facto, o cristianismo ainda modela assaz a mentalidade no Brasil, em diversos temas como aborto, eutanásia, conceituação de obscenidade, presença de igrejas em meio às classes baixas, moralidade sexual nelas, austeridade de costumes também nelas, gimnofobia em geral, vergonha da nudez, imposição de vestuário em dados ambientes laborais e estudantis.

Há ateus-cristãos, laico-cristãos, positivistas-cristãos: professam doutrinas emancipadas da teologia mas aderem a valores e costumes parcialmente oriundas dela. Conquanto as mentes se venham laicizando desde o século XIII, no Brasil ainda persistem elementos da inculcação teológica nos costumes, máxime nas classes baixas.

O positivismo colima haja ateus-humanistas, laicos-humanistas, positivistas, libertos de resquícios teológicos, bíblicos, em seus valores e hábitos e plenamente adeptos de valores e hábitos antropocêntricos.

Essa reflexão, aplicada às partes do corpo e ao nudismo, transcende a circunstância de estar-se nu ou de pregar-se a inocência de mentula, mamas, vulva, nádegas.

Não se cuida de marxismo cultural, gramcismo nem de esquerdismo; notai vós que marxistas culturais e esquerdistas não se batem pela naturalidade da nudez e não se opõem à gimnofobia (salvo, acaso, uma que outra exceção), nem ser naturista vincula-se com esquerdismo nem direitismo.

A naturalidade da nudez e a ausência de vergonha do corpo e de ser visto nu eram típicas de gregos e de romanos. Benjamin Franklin, João Goethe, Walt Withman eram nudistas; se não estou em erro, também Bertrando Russell.

A exposição à luz solar com nudez integral foi recomendada por médicos franceses e alemães na segunda metade do século XIX, o que facilitou a despornificação da nudez na Alemanha, na Áustria, na França, especialmente em suas zonas protestantes.

A cultura do corpo livre (de tabus e preconceitos), em alemão “freikörperkultur” (F. K. K.), como ética da nudez inocente, acha-se entranhada na mentalidade dos alemães, austríacos, franceses, croatas, espanhóis, há décadas e gerações. Na Alemanha havia (há ?) escolas nudistas, com aprovação oficial.

Reparai vós em que a cultura do corpo livre representa forma de ética humanista e coaduna-se com o afã positivista de laicizar a ética e os costumes. Não por acaso, a Europa é muito menos cristã do que o Brasil; em verdade, é ex-cristã e pós-cristã. A obra de Agostinho de Hipona introduziu no cristianismo horror da sexualidade e da nudez, subverteu séculos da herança ética e dos costumes greco-romanos; prevaleceu com o cristianismo nas sociedades ocidentais, com seus produtos daninhos da sexualização da nudez, da vergonha do corpo, da malícia; criou a associação entre nudez e sexualidade, nudez e erotismo, nudez e pecado, nudez e vergonha, nudez e desrespeito, nudez e malícia, ao passo que no modo de ver laico, nudez associa-se com naturalidade, liberdade, conforto, destituído de valorações negativas, do sentimento desagradável de vergonha, de sua associação erotismo.

  A antigüidade greco-romana formou o etos ocidental na naturalidade do corpo; o cristianismo subverteu-o, nesse capítulo; o humanismo há de reeducá-lo, mercê da retomada da ética greco-romana do corpo, modernamente expressa pela cultura do corpo livre (naturismo).

No Rio Grande do Sul, a Colina do Sol é a única “colônia” nudista do Brasil; na praia do Rio Grande (no estado do Rio Grande do Sul), vinte anos atrás eram comuns mamas ao vento, contudo atualmente já menos, aparentemente porque curiosos fotografavam-nas com seus telemóveis, o que inibe as mulheres.

 

 

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